tag:blogger.com,1999:blog-70963877332625829162024-02-06T22:33:28.585-08:00Café Sem SalUma tentativa precocemente frustrada de reativar o finado "Entre dois Cafés". Quinquilharias literárias, traquitanas escritas e republicações, na íntegra, editadas ou "revisited", de antigos e dispersos escritos.Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.comBlogger48125tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-15666619935981794482017-09-29T11:45:00.001-07:002017-09-29T11:45:23.189-07:00Vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
a somar, a dividir, subtrair, multiplicar<br />
vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
a separar as sílabas e também a soletrar<br />
vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
que as pessoas vão embora e não dá pra adivinhar<br />
vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
que por mais que a gente erre sempre dá pra consertar<br />
vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
que nem sempre o atalho é um bom caminho pra tomar<br />
vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
que quando tudo escurece, o amor pode iluminar<br />
vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
que a falha é humana, mas divino é perdoar<br />
vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
que nem tudo é verdadeiro e sempre é bom desconfiar<br />
vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
que quem dá corda para o medo perde a chance de arriscar<br />
vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
se o mundo fica pequeno você tem que inventar<br />
vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
que a saudade não é um laço e que você pode voar<br />
vai chegar o dia em que eu vou ter que te ensinar<br />
que se suas asas se quebrarem, vai ter sempre um lugarIguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-17951966741196679232017-09-11T04:11:00.002-07:002017-09-11T04:11:48.843-07:00<div style="text-align: center;">
Já não é mais que tempo suficiente</div>
<div style="text-align: center;">
pra tu sair dos meus sonhos?</div>
Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-2129920067569006182017-07-26T04:33:00.000-07:002017-07-26T04:33:09.076-07:00Tem mais poesia num suspiro meu do que em toda essa baboseira pseudo modernista mal escrita vagando por aí.Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-77683149419002809712017-07-13T08:22:00.000-07:002017-07-13T08:22:20.385-07:00AlineTeus olhos, Aline,<br />
convidam-me ao pecado <br />
de aventurar-me em seu corpo<br />
tão jovem, bem formado<br />
de amante irrestrita.<br />
<br />
Teus olhos, Aline,<br />
são repletos de malícia,<br />
Teus olhares e sorrisos,<br />
de carinho e de cobiça.<br />
<br />
Aline,<br />
desvenda-me teu segredo<br />
de longe, pois tenho medo<br />
de não resistir ao teu chamado<br />
<br />
silencioso, irrecusável<br />
De ir buscar meu sossego<br />
aconchegado entre teus seios<br />
repousado em teu abraçoIguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-70272700568037382872017-07-13T07:45:00.000-07:002017-07-13T07:45:53.916-07:00Ode ao ÓdioOdeio como odeia quem se deixa envolver<br />
Pela fúria até maior que o próprio medo de morrer<br />
Odeio com vontade, vergonha não cabe em mim<br />
Pois o ódio é só o começo do que um dia vai ter fim<br />
<br />
Ódio tão desmerecido, pouco visto em sua nobreza<br />
Que, assim como o amor, enche o homem de certeza<br />
Muito embora o amor seja somente um sinal de sorte<br />
E o ódio desmedido leve o homem à sua morte<br />
<br />
Eu sei que um dia acaba, já vi isso acontecer<br />
Ninguém continua odiando depois que a morte o surpreender.<br />
Que eu perca tudo na vida, e me curve a procurar<br />
Mas que leve até o túmulo meu dom de odiar.Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-62307550589201865142017-07-13T07:41:00.000-07:002017-07-13T07:41:09.393-07:00AusênciaChegará um momento em que, inevitavelmente, não mais estarei aqui<br />
Terá fim minha comunhão com as coisas terrenas<br />
embora as coisas terrenas, peremptoriamente, seguirão seu curso<br />
existindo apesar da minha falta física (ou por causa dela?)<br />
<br />
Far-se-á a constatação de que o curso dos dias seguirá inalterado:<br />
o nascente e o poente<br />
o meio dia<br />
e o jantar servido, pontualmente, às oitemeia.<br />
<br />
Tudo seguirá conforme os planos traçados assim que minha existência não mais for efetivamente verificada como real.<br />
<br />
E de mim, o que dirão?<br />
- Ele não faltava trabalho - alguém diria.<br />
- Ele deixou tresouquatro músicas - outro lembra.<br />
- Há dias não falava com ele - a maioria perceberia.<br />
- Talvez eu devesse ter perguntado como ele estava - um mais atento poderia conjecturar<br />
<br />
Mas passado o instante de choque, onde a ausência se torna presente, tudo voltaria a ser exatamente como era e sempre será: as primaveras aconteceriam, os rádios tocariam as mesmas canções patrocinadas pelas mesmas pessoas, e o curso dos dias seguiria inalterado:<br />
<br />
o nascente e o poente<br />
o meio dia<br />
e o jantar servido, como sempre, às oitemeiaIguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-60511253973760171942017-03-08T09:20:00.000-08:002017-03-08T09:20:54.786-08:00Quem diria?Quem nos via<br />
todo dia<br />
na rotina<br />
sem clima<br />
<br />
Quem nos via?<br />
Quem ouvia?<br />
<br />
Quem diria<br />
e nos veria<br />
assim, em fim,<br />
felizes,<br />
completos<br />
<br />
cada<br />
um<br />
por<br />
si?<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjluO-hAMhe6Sjq7Svy5um_Usd1mNMn4uF3p7DM-XlCzFCP0IwdoSfKl7Pvcj374TfcqAdX5U0tqehhOPy_ds0Y07O-uXl0Y6t86oZ101myOtSP4c3QWMCP0UsWdCIf1EUKZTcWr0qLcrE/s1600/solid%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="177" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjluO-hAMhe6Sjq7Svy5um_Usd1mNMn4uF3p7DM-XlCzFCP0IwdoSfKl7Pvcj374TfcqAdX5U0tqehhOPy_ds0Y07O-uXl0Y6t86oZ101myOtSP4c3QWMCP0UsWdCIf1EUKZTcWr0qLcrE/s320/solid%25C3%25A3o.jpg" width="320" /></a></div>
Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-39249825705437473312016-06-14T09:21:00.000-07:002016-06-14T09:21:15.896-07:00<div style="text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBhbZ_grB-p1P7XPWTMlaCIuiA6PRc98G3PaYw59F62X5sc8XRpFuv-V7a7yhQWw9yCecj4lD4GUeFpERQmJQWCSVUDAdaat_Dn14Th25voUxGU98hFpYHiaqznxN_IGqmNhR2HmHf-e0/s1600/AGATHA.jpg" imageanchor="1"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBhbZ_grB-p1P7XPWTMlaCIuiA6PRc98G3PaYw59F62X5sc8XRpFuv-V7a7yhQWw9yCecj4lD4GUeFpERQmJQWCSVUDAdaat_Dn14Th25voUxGU98hFpYHiaqznxN_IGqmNhR2HmHf-e0/s400/AGATHA.jpg" width="240" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Ensinar a viver é ensinar a pescar. É ensinar a jogar a linha e ter a paciência necessária para recolher os frutos que a vida te traz.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
É ter a paciência e o esforço para conquistar aquilo que se almeja. Uma família, um carro, um amor maior do mundo.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
É reconhecer a ganância, a cobiça e a mesquinharia. Aprender que quando a gente não vai pra frente, às vezes a culpa é do outro.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Pra pescar a gente tem que ter calma. Pra viver também. A calma e a serenidade de ter um beijo gostoso de boa noite e de manhã cedo. De ter a certeza de que minha mamadeira é a melhor do mundo. De estar ciente de que um anjo fica com medo de dormir se eu não estiver em casa.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Eu sigo pescando e nadando nesse mar que conquistei pra mim, depois de ter passado tanto tempo molhando os pés em água rasa.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Mesma água rasa na qual tu finges nada, quando em verdade está esperneando, sabendo que te afogas.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-28693931540239030382013-11-21T19:59:00.000-08:002013-12-19T17:06:50.872-08:00Sobre o trigo (embora nada a ver)<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOpgj6V6_Etj7AwHOrN4KYqd6UnBOf1L1KKhmUM3S3BSmj6DBxlH6rhFh4askX_xE6CKHiUbirXxq2GZtookGcDgW8ooZmM4gz6C2OCRtJuLfk3Qj0tL9VoWdR2hE6H5eZUYUSRQocKTpQ/s1600/n_trigo_inicio_799136004.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOpgj6V6_Etj7AwHOrN4KYqd6UnBOf1L1KKhmUM3S3BSmj6DBxlH6rhFh4askX_xE6CKHiUbirXxq2GZtookGcDgW8ooZmM4gz6C2OCRtJuLfk3Qj0tL9VoWdR2hE6H5eZUYUSRQocKTpQ/s320/n_trigo_inicio_799136004.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Tic, toc, tic, toc...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Finalmente acordei. O despertador tocava há seis anos. Foi
difícil pressionar o “soneca”. Lavei a cara na pia do banheiro e, diante do
espelho, um estranho me olhou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- E aí? – Perguntei<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Tranquilo. – respondeu<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Nervoso, sem saber quem era aquele cara e o que queria,
insisti:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Qual é?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- De boa. É bem contigo que eu quero falar. – Ele disse.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Surtei. Passei a vida pagando impostos, contribuindo pro
INSS, votando conscientemente pra, agora, isso? Inviável. Protesto,
meretíssimo, esse ser é um estranho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Tu acha mesmo? – perguntei<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
– Olha pra ti e olha
pra mim... Eu sou tu! – ele falou, como se soubesse mais que eu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Duvidei. Pois simplesmente não poderia ser eu. Como EU, logo
EU, poderia estar assim tão...tão...tão careta? Logo eu, que me aventurei e
desaventurei na adolescência e no período pré adulto?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Eu? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Exato, tu mesmo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Mas como? Álcool, maconha, cocaína, anfetamina, ritalina,
rivotril, diazepan, haxixe... Nada passou despercebido nessa busca imensa e
inexata de alguma coisa. E tudo deu em nada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Tu não é o ******? - Eis a pergunta que eu tanto temia. Era eu, sim. Mas com
um passado atordoado, tal pergunta soava quase como um castigo, uma maneira de
trazer à tona tudo que eu tentava a todo custo esquecer.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Eu? Sim... Bem eu. Depende, qual é a acusação? – A brincadeira,
sempre. Pra desestimular outra piada qualquer.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Bah, cara, ouvi tua música... Curti pra caralho. Fala bem
sobre um lance que eu vivi.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Tá brincando! Sério?</div>
<div class="MsoNormal">
- Meu, de boa.</div>
<div class="MsoNormal">
- Pôxa, valeu... Bah, nem sei o que dizer... Obrigado.</div>
<div class="MsoNormal">
- Capaz...<o:p></o:p><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>Medo do Escuro</b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>(letra e música: Igue Morelli / Ivanor Kieling)</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/uG-lK2xcy48?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b><br /></b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Mãe, vê se me deixa em paz</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>eu to indo e não volto mais</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Eu quero é ser feliz</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Como eu sempre quis</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b><br /></b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Já comprei minha passagem</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Arrumei toda minha bagagem</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Eu to indo embora</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>e tem que ser agora!</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b><br /></b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Terminei com a Fernanda,</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>mostrei quem é que manda</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>e agora eu vou</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b><br /></b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Perdi meu medo do escuro</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Agora estou seguro</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>de onde eu quero estar:</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>Com os meus amigos</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>que estão comigo</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<i><b>aonde quer que eu vá.</b></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
(foto: http://geoconceicao.blogspot.com.br/2011/06/revolucao-verde-2.html)</div>
Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-62746150070427649752013-08-06T12:30:00.000-07:002013-08-06T12:30:30.658-07:00VertigemVertigem<br />
<br />
Ao te ver, altiva,<br />
autista autointitulo-me.<br />
Pois esse ver-te<br />
(que de mim verte),<br />
me prende, aprende,<br />
apreende,diverte.<br />
<br />
Em ti, encontro a certeza,<br />
enquanto (e quanto!),<br />
em contrapartida,<br />
encontro a partida.<br />
E, se parte, toma meu peito,<br />
reparte.Toma algo que é meu.<br />
<br />
Tens de mim um pedaço de vida.<br />
Em troca, quero também algo teu.<br />
Se já tens de mim um pedaço,<br />
divida.<br />
<br />
(<a href="http://www.lojamais.com.br/Loja/Emp_MostraProd.aspx?codProduto=552922&codemp=38484">http://www.lojamais.com.br/Loja/Emp_MostraProd.aspx?codProduto=552922&codemp=38484</a>)Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-65548583291740218172012-08-04T00:51:00.001-07:002012-08-04T00:51:10.305-07:00Ágata<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não que fosse bonita. Digo, não era feia, mas estava longe
de gozar daquela beleza fascinante que a TV costuma derramar sobre nós. Assim,
deitada, parecia serena e desprotegida, com seu seio despontando para fora do
lençol que a cobria, o mamilo apontado em direção ao teto. Longe de mim querer
despertá-la daquele torpor tão tranquilo e acabar desmanchando aquela pintura
diante dos meus olhos. Levantei com cuidado e saí do quarto. Vênus repousava no
acalento das canções medievais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ainda nu na cozinha, abri uma cerveja e bebi quase de um
gole só. A ingestão repentina ainda pela manhã me proporcionava uma sensação
prazerosa, como se meu corpo estivesse sendo abraçado pela morfina. A primeira
cerveja do dia trazia de volta a embriaguez afastada pelo sono e pelo sexo da
última noite. Era como um gatilho para retornar ao estado anterior, um
tentáculo que me arrancava da realidade e me puxava carinhosamente para um
lugar feliz e harmonioso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Parei na porta do quarto. Ela ainda dormia, agora virada de
frente para a parede, de costas para mim. Sob o lençol, era possível ver os
contornos do seu corpo. Tinha cabelos loiros, tintura pesada, e sombras escuras
debaixo dos olhos. Nico. Femme Fatale. Seja meu espelho, docinho, e reflita em
sua pele a delicadeza existente sob a minha carapaça. Sunday Morning. Todas as
festas de amanhã. Minha Vênus em pele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No banheiro, o resultado dos excessos. Minhas olheiras
despontavam arroxeadas. Quando abaixei a cabeça para mijar, fiquei tonto,
apoiei a mão na parede. Quando o jato saiu, senti como se minha uretra
estivesse em chamas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na sala, as garrafas vazias formavam um mosaico que falava
sobre a noite anterior. Minha mesa de centro com tampo de vidro estava repleta
de migalhas de pó, com cédulas enroladas em volta. Achei o cartão de crédito
dela, com a borda umedecida. Ágata. Ágata era uma pedra. Ou uma jóia? Pensei em
cristais. Em oceanos azuis de águas plácidas, mesmo sabendo que não fazia
sentido. Mas “Ágata” me lembrava “água”. Volúvel, molhada, envolvente.
Fascinante. Águata. Te chama, te embala e te afoga.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sentei no sofá e peguei uma carteira de cigarro que estava
ali. Tirei um. Passei por debaixo do nariz e senti o cheiro de fumo. Diziam que
ali havia quatromilequinhentas substâncias cancerígenas. Como cabiam todas?
Acendi e traguei. Minha cabeça girou, quase vomitei. Nunca havia desenvolvido o
hábito, talvez estivesse velho demais pra isso. Tossi, cuspi no carpete e
apaguei o crivo na mesa de centro. O ministério da saúde não adverte que
cigarro tem gosto ruim. Continuei sentado. Olhei meu saco. Balancei o pau pra
ver se endurecia. Desisti. Fechei os olhos. Cantei Love Me Tender. Abri os
olhos. Cantei Bad To the Bone. Fiz uma careta. Levantei e voltei pro quarto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quando entrei, Ágata (Águata) estava nua juntando suas
roupas. Quando me viu (olhos de oceano), se assustou, cobriu-se com o lençol.
Riu (sorriso de maré alta), largou o lençol e veio me abraçar. Me beijou nos
lábios (cigarro), me olhou nos olhos e continuou sorrindo. Corri a mão por seus
flancos até os quadris, me sentindo sem jeito. Aquilo me incomodava. Seus olhos
de maresia me puxando para o fundo. Antes que me afogasse, antes que Medusa me
fizesse pedra, paralisado para até onde o tempo alcançasse, falei<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Querida, eu acho que é melhor tu ir agora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não sei que rumos ela tomou, se procurou outros navegantes
perdidos ou se arrastou alguém para suas ondas que estouravam nos rochedos. Eu,
até hoje, não perdi meu medo do mar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-80785961207368220382012-04-24T17:07:00.002-07:002012-04-24T17:10:33.238-07:00Como era antes.Depois que o sol entrou pela janela que eu tinha deixado aberta na noite anterior e bateu direto na minha cara, não consegui mais dormir. Não bastava minha dor de cabeça, ainda tinha essa porra de sol pra encher o saco. Levantei devagar e vesti a primeira calça que achei jogada pelo chão. Parei diante da janela e olhei pra baixo. De cima, tudo parecia tranquilo. E de fato é. Quando não se está perto, é impossível ter noção do que acontece. Tudo parece sereno. Queria ver quem tinha coragem de enfiar a cara no meio da multidão que fervilhava lá embaixo, na calçada, e segurar no peito aquela insanidade, aquela manada enfurecida que disparava de e para todos os lados. Eu, tomado pelo comodismo que apredera a pouco, decidi fechar a janela e ficar em segurança. Já tinham me ensinado que era bem melhor assim.<br />
Quando cheguei na cozinha, tive vergonha de mim mesmo. Como as coisas foram parar naquele estado? Em que momento eu desliguei o piloto automático e simplesmente parei de me importar com a casa e todo o resto? Melhor não pensar, a menos que quisesse mesmo lembrar a resposta.<br />
Sobre a mesa atrolhada de restos de tudo que se pode imaginar, identifiquei um sanduíche de queijo que, pelo cheiro, estava prestes a ser catalogado como novo ser vivo. Joguei pra Lua, que se afastou e me olhou com desprezo. Foda-se a gata, pensei.<br />
Em cima da pia, precisei decidir entre um café frio e uma cerveja quente. Se houvesse cianeto no cardárpio, a escolha seria mais óbvia. Atravessei aquilo que parecia um cenário de guerra e fui pro banheiro, liguei o chuveiro e me sentei no chão, de roupa mesmo, sentindo a água gelada cair na minha cabeça. De olhos fechados, senti o frio tomar conta do meu corpo, como se milhares de agulhas perfurassem minha pele até eu estar sedado, anestesiado. Logo a água e a cerveja me deixaram num leve e agradável estado de torpor. Equanto bebia, me imaginava sob uma cachoeira, longe de tudo, sem ninguém por perto. Podia quase sentir o cheiro do mato em volta de mim, o vento audível nas folhas. Ilusão. Deixei as roupas no chão do banheiro, me enrolei num cobertor e sentei no chão da sala vazia. Lua me rondou e miou alto. "Também tô com fome, querida". Me olhou e miou de novo, mais alto. "Também sinto, Lua. Mas agora somos só nós dois outra vez. Como era antes".Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-1877369570477252892012-03-04T18:48:00.002-08:002012-03-05T14:08:17.250-08:00Procura<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLLmrRW1dq3JLkYIlfneFv5wighaBqkhvcRLSXcT888ZyIURZUn8TLexqk6MfRC2rH1XWwgv4VNi0xCxgVUhckkgMjMQPtmRPp95MzxuVwvKMkpsUqgK0KlRkXDKfVWlEUV0fjJU1f5AuH/s1600/por-do-sol_guaiba_jul08.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLLmrRW1dq3JLkYIlfneFv5wighaBqkhvcRLSXcT888ZyIURZUn8TLexqk6MfRC2rH1XWwgv4VNi0xCxgVUhckkgMjMQPtmRPp95MzxuVwvKMkpsUqgK0KlRkXDKfVWlEUV0fjJU1f5AuH/s320/por-do-sol_guaiba_jul08.jpg" width="320" /></a></div><br />
O pôr-do-sol visto do gasômetro é realmente lindo. E pensar que eu vivi tanto tempo sem desfrutar dessa visão. Sentados na grama à beira do Guaíba, evitávamos nos olhar. Eu me sentia culpado.<br />
<br />
- Tu volta?<br />
- Volto.<br />
- Quando?<br />
- Quando for a hora.<br />
- E como tu vai saber quando é a hora?<br />
- Quando eu achar o que to procurando.<br />
- E o que é?<br />
- Não sei.<br />
- Se tu não sabe o que é, como vai procurar?<br />
- Quando eu achar, vou saber.<br />
- Daí tu volta?<br />
- Volto.<br />
<br />
Me estendeu a lata. Tomei um gole. Nossos olhos ainda olhavam o sol mergulhando no Guaíba.Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-18675394523769612702012-01-31T05:11:00.000-08:002012-01-31T05:11:17.646-08:00Nesses DiasNesses dias em que eu não saio do quarto, em que fico ouvindo o mesmo maldito disco da Elis Regina, com a janela fechada e uma jarra de café na minha frente... Nesses dias em que tudo que ela canta parece ser pra mim, nesses dias de merda em que eu sou só lembranças, nesses dias em que eu sinto como se um pedaço arrancado do meu corpo pulsa vivo perto de mim, nesses dias em que eu fecho os olhos e finjo, sim, eu finjo, finjo que tudo ainda está do mesmo jeito, tudo está igual, nada mudou. Nesses dias em que eu abro os olhos e vejo que sim, tudo mudou, e as coisas nunca mais voltarão ao lugar. Nesses dias em que eu sinto o peso da derrota, a dor do dano. Nesses dias em que eu me pergunto 'vale mesmo a pena?', e nesses mesmos dias em que eu sou tomado de certeza de que meu lugar era ali e em nenhum outro.<br />
<br />
Nesses dias eu queria fumar.Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-5125136048689083492011-12-09T17:07:00.001-08:002011-12-09T17:07:45.092-08:00Adormecendo<br />
<br />
a dor<br />
me<br />
sendo.Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-1473211286228912932011-10-12T14:01:00.000-07:002011-10-12T14:06:15.201-07:00Desabafo de alguém que escreve<p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"></p><blockquote></blockquote><span class="Apple-style-span" ><i><div>“Escrever (es-cre-ver)</div><div>v.t.</div><div>Exprimir-se por sinais gráficos, caracteres convencionais: escrever seu nome.</div><div>Redigir, compor: escrever uma obra.</div><div>Ortografar: como se escreve essa palavra?</div><div>Corresponder-se, informar por carta: escrevo-lhe que aceito.</div><div>Sustentar, afirmar que: Bergson escreve que...</div><div>Fig. Assinalar, gravar: na fronte leva escrita a sua desonra.</div><div>Estava escrito, fórmula para expressar resignação.”</div><div><br /></div></i></span><div><p class="MsoNormal" style="margin-top:0cm;margin-right:0cm;margin-bottom:0cm; margin-left:35.4pt;margin-bottom:.0001pt"><sup><span style="font-size: 10pt; "></span></sup></p><p class="MsoNormal" style="margin-top:0cm;margin-right:0cm;margin-bottom:0cm; margin-left:35.4pt;margin-bottom:.0001pt"><sup><span style="font-size:10.0pt; mso-bidi-font-size:11.0pt"><o:p></o:p></span></sup></p> <p class="MsoNormal" style="margin-bottom:0cm;margin-bottom:.0001pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;margin-bottom: 0.0001pt; "><span></span><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Sempre escrevi. Tudo bem, nem sempre, mas desde os cinco anos. E não apenas reproduzia signos gráficos ou produzia enunciados banais (“leite, pão, margarina, café e queijo”) ou objetivos (“mãe, deixe a porta aberta. Estou sem chave. Beijo). Pouco tempo depois de ter domínio daqueles desenhos que a caneta deixava no papel, e que diziam tanta coisa!, passei a escrever palavras que formavam frases que não relatavam exatamente fatos cotidianos. Falavam sobre coisas que não aconteciam. Se eu falasse, chamariam “mentiras”, mas, como eu escrevia, eram “contos”, “poemas” e coisas assim.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;margin-bottom: 0.0001pt; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Escrevia muito, sobre várias coisas. E, de certa forma, tudo que eu criava me envolvia de uma maneira que já era difícil definir a realidade daquilo que eu escrevia. Era como se o papel fosse uma extensão de mim, uma vida que eu vivia quando a minha já não era suficiente. Era um refúgio, um inferno. Um paraíso e um barco em alto mar, que balançava na força das ondas e que resistia à fúria das tempestades. Escrever era tudo o que eu queria viver.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;margin-bottom: 0.0001pt; "><span></span><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Das coisas que escrevia, às vezes gostava de algo. Elogios? Recebia muitos, mas nunca aceitei. Não pensava ser bom escritor, nem gostava de tudo que acabava caindo no papel. Às vezes, algum caía em meu agrado, mas não mais do que isso. Almejava, sim, melhorar naquilo que fazia. Escrever mais, melhor. Publicar, quem sabe? Enfim, sempre achei que estava no caminho certo, e sempre quis continuar escrevendo.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;margin-bottom: 0.0001pt; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Quando comecei a estudar a teoria da literatura, foi como se recebesse um soco. Com declarações fortes, a professora afirmava :” Isso é certo, isso é errado. Isto é bom, aquilo é ruim. A literatura deve ser assim, não assim!”. Eu jamais ouvira falar sobre imagens sensoriais, mimeses, plurissignificação ou coisas semelhantes. Descobri que tudo o que eu tinha escrito naqueles anos não era bom. As pessoas gostavam porque não conheciam boa literatura.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;margin-bottom: 0.0001pt; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Tentei mudar, juro. Por vezes tentei colocar nas histórias tudo aquilo sobre o que os teóricos falavam, mas foi impossível. Quando chegava no ponto final, tudo que estava ali era uma expressão pura de mim. Nada mais. Por mais que eu tentasse substituir o sentimento por racionalidade, o resultado era sempre a essência do que eu queria dizer. Pingava sangue.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;margin-bottom: 0.0001pt; "><span class="Apple-tab-span" style="white-space:pre"> </span>Desisti. Não há um escritor em mim. Não um que possa ser levado a sério, ao menos. Meus escritos continuarão apenas relatando coisas simples, sobre o que eu sinto ou imagino sentir.<span> </span>Continuarão sendo extensões das vidas que não vivo.</p></div>Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-48611829736706032352011-10-02T04:57:00.001-07:002011-10-02T05:21:59.334-07:00Lançamento da antologia Ventos Poéticos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihejVUC8DwdFrObxTAvzLXm4LgsQYFN6BbjH05AwjdwnpzVNmGH25rs0RgXVDNCpm5JyzNn0tQp8ORuOdTzkg9DDvfSeTsfPPblRV5DpMrbxlN-eDBc8-Q9oxdmVjCBsBZROQkzuPCiEI/s1600/303849_2486374324776_1415205331_32910854_1698769678_n.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 322px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihejVUC8DwdFrObxTAvzLXm4LgsQYFN6BbjH05AwjdwnpzVNmGH25rs0RgXVDNCpm5JyzNn0tQp8ORuOdTzkg9DDvfSeTsfPPblRV5DpMrbxlN-eDBc8-Q9oxdmVjCBsBZROQkzuPCiEI/s400/303849_2486374324776_1415205331_32910854_1698769678_n.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5658863528552697922" /></a><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span"><u><br /></u></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><span class="Apple-style-span" style="background-color: rgb(255, 255, 255); "><span class="Apple-style-span"><u></u></span></span>Lançamento de VENTOS POÉTICOS na Livraria Martins Fontes da Paulista, às 15h30min, em São Paulo/SP<span class="Apple-style-span"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 14px; background-color: rgb(255, 255, 255); "><span class="Apple-style-span"></span></span><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(204, 204, 204); "><u><br /></u></span></span></span><br /></div>Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-39301649401049423782011-07-10T07:03:00.000-07:002014-01-09T17:01:54.793-08:00Gabriela<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>- Grandes merdas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>E foi assim que eu conheci Gabriela, quando, num ímpeto de pudor que eu bem sabia não ser meu, procurei o emissor dessa interjeição tão corriqueira, mas que, no momento, me pareceu demasiadamente inesperada. Então vi. Vi os cabelos castanhos aparados antes dos ombros estreitos de menina não crescida ainda. Vi a pele também castanha, indicando a composição mestiça daquele corpo pequeno e frágil. Mas acima de tudo, vi os olhos, do mesmo tom, com um brilho de sabedoria, astúcia e malandragem típica da idade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Gabriela não era bonita, comparada às outras meninas da classe. Ao invés das roupas apertadas, acentuando curvas ainda em formação, Gabriela vestia calças jeans e uma camiseta larga, cor de rosa. Rosa choque, rosa forte. Gabriela ia tão além daquele rosto pequeno entre tantos corações pequenos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Durante as aulas, a cabeça pairava longe das orações subordinadas... Gabriela tinha a alma tão grande que achava que o mundo não era capaz de lhe suportar. E foi assim que, ao lhe explicar pela terceira vez a importância (que eu nem acreditava mais) que tinham as orações subordinadas, que Grabriela soltou um "grandes merdas". Assim, sem querer. Mas sincero.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Corou e quase corei também, não estivesse tão acostumado a reações semelhantes. Mas vinda de Gabriela, a frase soava diferente. Soava como um apelo de uma alma aprisionada no subúrbio não asfaltado da cidadezinha de merda que sufocava sonhos. E concordei. Grandes merdas. Grandes merdas as subordinações para nós que já somos subordinados a tanta falta de esperança. Nós, que nos bastamos em sobreviver.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Naquele momento, Gabriela olhou em meus olhos quase sem notar, e eu vi, quase sem perceber, aquele brilho intenso que seus olhos, quase sem saber, deixavam escapar e que o coração, quase sem acreditar, dizia "falta pouco".</div>
Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-29547892240997851932011-06-26T09:44:00.000-07:002011-06-26T09:47:19.123-07:00Antologia Ventos Poéticos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpttB0Nrh1q_760jrNoE-0VROkBcXiLx_XEsgrmHWDHhuz7vJ3toHGy0zOH-3jswDd6GCfsRfaOk_Y1ky7dVTKuGXOv3eSNovyBPV3poHRgHXVuLxQvOj2tkWlZwBGAbUAkRzuUJItkN0/s1600/Ventos+Po%25C3%25A9ticos+capa+%25281%2529.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 254px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpttB0Nrh1q_760jrNoE-0VROkBcXiLx_XEsgrmHWDHhuz7vJ3toHGy0zOH-3jswDd6GCfsRfaOk_Y1ky7dVTKuGXOv3eSNovyBPV3poHRgHXVuLxQvOj2tkWlZwBGAbUAkRzuUJItkN0/s400/Ventos+Po%25C3%25A9ticos+capa+%25281%2529.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5622570621479580130" /></a><i><br /></i><div style="text-align: center;"><i>"<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; ">A poesia de cada dia vinda de todos os lugares. Como o vento que sopra e traz novas emoções, sentimentos, e desperta curiosidade. Às vezes apenas como uma brisa leve ao amanhecer. Às vezes como um tufão ao final da tarde anunciando tempestade. Os Ventos Poéticos vêm para manifestar o que há no âmago de cada ser; o que foi, o que é, e o que será melodia no assovio do vento em cada canto do mundo."</span></i></div><div style="text-align: center;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; "><br /></span></i></div><div style="text-align: center;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; "><br /></span></i></div><div style="text-align: center;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; "><br /></span></i></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" ><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;"><b><i>Igue dá um passo nessa história de escrever.</i></b></span></span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" ><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;"><b><i><br /></i></b></span></span></div><div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" ><span class="Apple-style-span" style="line-height: 18px;"><b><i>Na antologia, um poema inédito: VERTIGEM</i></b></span></span></div>Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-90363337186248519822011-03-26T09:18:00.000-07:002014-01-09T16:14:23.794-08:00Fragmentos de AdrianaLinks:<br /><br /><a style="font-weight: bold; color: rgb(255, 0, 0);" href="http://cafesemsal.blogspot.com/2011/01/fragmentos-de-adriana-parte-i.html">Parte I</a><br /><a style="color: rgb(255, 0, 0);" href="http://cafesemsal.blogspot.com/2011/02/fragmentos-de-adriana-parte-ii.html"><span style="font-weight: bold;">Parte II</span></a><br /><a style="color: rgb(255, 0, 0);" href="http://cafesemsal.blogspot.com/2011/02/fragmentos-de-adriana-parte-iii.html"><span style="font-weight: bold;">Parte III</span></a><br /><a href="http://cafesemsal.blogspot.com/2011/03/fragmentos-de-adriana-parte-iv-hortela.html"><span style="color: rgb(255, 0, 0); font-weight: bold;">Parte IV (Hortelã & Canela)</span></a>Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-23746840164864903812011-03-26T06:34:00.000-07:002015-03-05T15:32:59.465-08:00Fragmentos de Adriana - Parte IV (Hortelã & Canela)A lâmina afiada da faca reluzia à luz daquele sol matinal de um domingo de outono que entrava pela janela da cozinha e formava desenhos na parede do outro lado enquanto eu cortava pedaços de carne e deixava-os ao lado. O aroma do alho impregnava o ambiente, mesclado com café e carne fresca. Ingredientes organizadamente separados e espalhados pela mesa, enquanto eu manipulava carnes e legumes para o almoço.<br /><br />O tempo corre sem percebermos. Alguns anos vazios passaram-se sem Adriana. Sem quem? Não sei. Já tinha esquecido. Tinha esquecido dela e de mim naquele período confuso, talvez convulso, em que me entreguei de olhos fechados ao sabor das vontades do destino, sem me preocupar muito com as consequências das minhas atitudes.<br />Durante esse tempo, meu amor por Adriana foi doentio como nunca, me matava lentamente e de forma dolorosa. Eu tratava Adriana como um tumor maligno, e tínhamos uma espécie de acordo mórbido e silencioso: Se ela me mantivesse vivo, eu lhe manteria amada. Me matasse e passaria o resto de seus dias sem a lembrança de ter alguém desejando-lhe. Triste constatação, mas um contrato de tal dimensões realmente foi necessário.<br /><br />Tirei as folhas de alguns ramos de hortelã e as cortei em pequenos pedaços. Quando joguei na panela, entre os pedaços de carne e o alho já dourado, o aroma fresco e adocicado da erva invadiu o ambiente, criando uma atmosfera agradável e aconchegante.<br /><br />Adriana, como eu soube depois, tivera um caminho diferente depois de ter me mandado embora. Fez as viagens que tanto queria, conheceu uma boa parte do mundo (" - Pa - tchou - ly. É da Indonésia"), enquanto eu traçava o caminho apartamento-bar-apartamento. Conheceu pessoas, talvez umas mais que outras (" - Moramos um tempo juntos, mas era mais a minha necessidade de não ficar sozinha. Eu precisava de abrigo, e ele estava lá. Só isso"). Eu? Bem... Conheci todas as mulheres possíveis e nenhuma ao mesmo tempo.<br /><br />Lembro que naquela manhã a televisão me contou que Adolfo Casares havia morrido. Casares nunca quis morrer. Ele sempre teve medo da morte e não escondia isso. Fiquei triste com aquela notícia. Daí o telefone tocou. Cassares partia e Adriana voltava. Cômico, não? Não. Sem muitas explicações, marcamos um almoço. E cá estou preparando-o, entre hortelãs e alho dourado.<br /><br />A campainha tocou, abri a porta. Nossa... Ela continuava linda, embora agora parecesse mais segura. As linhas que o tempo marcara em seu rosto lhe davam mais polidez e credibilidade. Os cabelos continuavam pretos como sempre, mesmo que fossem pintados. Andava bem vestida, tinha um perfume suave. Era Adriana, mesmo que não fosse, mesmo depois de alguns anos e muitos rancores, parecia tão familiar como se tivesse apenas levantado para buscar algo na cozinha, e agora voltava mais velha e mais linda do que nunca.<br /><br />- Oi. - Ela disse, tímida.<br />- Como vai? Entra! - Um abraço distante e demais protocolos sociais.<br /><br />[...]<br /><br />- Que delícia! Como tu fez?<br /><br />- Quando o alho ficar dourado, larga um pouco de hortelã junto. mas não muito antes, pra ela não queimar.<br /><br />- Fica ótimo!<br /><br />- Mas se pôr demais, fica enjoativo.<br /><br />[...]<br /><br />- Sabe... Eu nunca realmente fui feliz depois disso tudo.<br /><br />- Eu sei. Eu também não.<br /><br />- Foi como se eu tivesse certeza que era aquilo que eu queria, mas depois percebesse que, talvez, poderia ter sido diferente. Sabe? Na verdade, não me arrependo. Pára, não faz essa cara. Mas eu precisava disso. Pra aprender a errar, talvez. Pra aprender a ser sozinha. Acho que isso me fez crescer, por isso a experiência é válida. Tu não acha? Olha quanta coisa a gente aprendeu. Não teríamos adquirido todo esse conhecimento se isso não tivesse acontecido assim.<br /><br />Como ela podia?<br /><br />- De fato, Adriana, aprendemos muito. Eu aprendi muitas coisas que preferia ficar sem saber. Eu aprendi qual é o cheiro desse apartamento quanto tu não está aqui. Aprendi como me virar sozinho. Aprendi como não ter ninguém por mim e como não me importar com ninguém. Aprendi a não amar por retribuição, mas por necessidade de ficar vivo. Aprendi quantos gramas são necessários para matar alguém. Aprendi quanto tempo a gente aguenta sem comer, sem chorar, sem ter carinho.<br /><br />- Não fala assim, tu sabe que...<br /><br />- Sei. Eu sei muito bem, Adriana. Melhor do que tu imagina. Não fala comigo como se isso tivesse sido construtivo para nós dois. Desculpa, mas eu não tive a mesma sorte.<br /><br />- Eu sei... Me desculpa por isso. Eu me sinto mal em saber, e sempre soube. A questão é justamente essa. Nós dois sabemos bem. E agora, o que se faz? Como nós usamos o que sabemos?<br /><br />- Acho que não usamos, Adriana. Não um com o outro, pelo menos.<br /><br />Adriana se calou e eu vi o que jamais tinha imaginado durante esse anos todos: duas lágrimas pequenas e brilhantes, duas pérolas de dor brotando em seus olhos tristes. Como eu queria pular por cima da mesa e dizer "fica fica fica fica eu quero quero sim tu sabe que eu quero e quero sim fica comigo eu quero de volta", mas não dava. Não era certo, não depois de tudo. Sim, eu havia aprendido algo durante esse tempo todo. Que quando dois caminham em direções opostas, não é tão fácil voltar pro mesmo caminho. Todas as lembranças passavam na minha cabeça, e quando segurei a mão de Adriana por cima da mesa, ela entendeu o que eu sentia e concordou em silêncio. Pegou, com o garfo, uma folha de hortelã que havia escapado do fio da faca e olhou para ela com ternura, depois olhou pra mim. Eu sabia o que ela estava pensando. lembranças de quando cozinhávamos juntos e conversávamos sobre as propriedades dos ingredientes.<br /><br />Olhou-me com ternura:<br /><br />- O que vai ser agora? - perguntou.<br /><br />Pensei que dali em diante eu seria doce pra ela, seria seu refresco quando o amargo do mundo lhe tomasse. E que ela seria doce pra mim, mas impossível lembrar dela sem que alguma coisa doesse, como um ardido na língua.<br /><br />- Hortelã e canela. - Eu disse.<br /><br />- Hortelã e Canela. - Ela disse.Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-22686516313722531352011-02-24T18:51:00.000-08:002011-02-24T18:57:20.104-08:00O mergulho da águia<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQUGcaNtV_BdO1S7ZpHC6fooiEr5cTDLjNNx9CAkg7gz3gJ3tPlol1cITvf_J5OZilGIaLDFoYC_gErZI2EX2Xse45CpqP3P4mCdH4_caK_wZ_4O1qvrzmdOP_zgKqU8XMtrig-w1N3Gg/s1600/uma_aguia_voando-848.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 245px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQUGcaNtV_BdO1S7ZpHC6fooiEr5cTDLjNNx9CAkg7gz3gJ3tPlol1cITvf_J5OZilGIaLDFoYC_gErZI2EX2Xse45CpqP3P4mCdH4_caK_wZ_4O1qvrzmdOP_zgKqU8XMtrig-w1N3Gg/s320/uma_aguia_voando-848.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5577455808208014722" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><div style="text-align: justify;">A águia precipitou-se penhasco abaixo, saltando com força da rocha onde edificara seu ninho. Após os segundos atormentantes que precedem o mergulho, pode-se ver seu corpo rasgando o ar em direção ao céu, o bico forte apontado para cima.Como a fênix que renascia das cinzas, a águia deslizava em direção ao céu após o mergulho quase fatal.<br /><br />Era impossível manter a ascenção daquela forma por muito tempo, mas ela sabia como proceder. Traçava linhas curvas no céu, indo e voltando, e, assim, ganhando cada vez mais altura.Elevava-se entre as nuvens, onde o ar se tornava escasso. Ascendia no horizonte longínquo daqueles que olhavam sem ver, e viviam sem entender as razões que levavam a águia a querer atingir o manto azul que cobria todas as coisas. Manto este que era alvo de sua visão perspicaz e aguçada, e que não era impossível de se alcançar, para aqueles que contassem com um par de asas fortes que batiam de forma agressiva, mesmo sendo uma violência vagarosa.<br /><br />Havia determinação nos olhos e em cada rufar das asas do pássaro.Conhecia o caminho, mas os olhos abertos demonstravam sua obstinação em atingir o ponto mais alto do céu e de si mesma. Vencia cada corrente de ar de forma heróica, sem nunca deixar de subir.<br /><br />Minutos depois, alcançara o ápice e gozava de vencer o desafio. Agora, planava calma perto das nuvens, o mais próximo que se podia chegar. Era um ponto quase invísivel no azul celeste. Era um ser quase invisível em meio a tantas gentes e coisas. Era o que queria: Estava em sintonia com sua essência, respirava e se mantinha no mesmo ar, estava entregue à sua natureza e se sentia o próprio céu em que se deitava.<br /><br />Após nadar tranquilamente na imensidão azul sem paredes ou limitações, lançou-se a bater as asas novamente, tentando ir ainda mais alto. Impossível, àquela altura e com sua situação física. Mas tentara, e havia subido mais um par de metros. Do alto do universo e de sua consciência, fechara os olhos e lançara-se outra vez em um mergulho, mas agora sem pressa para retornar. Juntou as asas ao corpo, mas expandiu seu coração por quilômetros.Entregava-se sem medo ao abraço que não viria, e seu único objetivo era tornar-se parte do chão que a aguardava.<br /><br />O silêncio imperou pelas montanhas naquele momento, como se cada criatura viva entendesse a agonia da águia e lhe prestasse seus respeitos. As pedras não rolaram, o vento não soprou e nem sequer beijou as folhas do eucalipto naquela manhã. As raposas permaneceram no ninho, e os coiotes uivaram em um tom triste, de dentro de suas tocas.O pai não soube responder quando a criança perguntou, vendo a águia lançar-se rumo ao chão, naquele mesmo longínquo horizonte outrora citado. O pai também não soube por que lhe correra uma lágrima naquela manhã tão comum.<br /><br />A criança ficou sem resposta, mas havia entendido alguma coisa. Havia sentido a águia lhe fitando por um breve instante com seu olhar microscópico, tão mais potente que o da criança qua não vira, mas entendera.E ouviu as palavras da velha águia cansada ecoando entre os penhascos por tantos anos depois, naquela mesma região. Na mesma região onde ele, um dia, encontrara um ninho encravado em um rochedo, e decidira tentar ir mais alto.<br /></div>Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-87256486929840968192011-02-07T20:08:00.000-08:002015-03-05T15:32:59.473-08:00Fragmentos de Adriana - Parte III<div style="text-align: justify;"><blockquote></blockquote>No bar, todos já comentavam sobre meus encontros com <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">Clarice</span>, todas as noites. Chegávamos, um sempre esperando o outro, e passávamos a noite a conversar. Com o tempo, passei a prestar cada vez mais atenção em seus olhos castanhos, seus cabelos pretos cortados acima do ombro e seu sorriso grande. Após horas, já madrugada adentro, <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_1">Clarice</span> ia embora e eu continuava bebendo até que o bar fechasse. Sendo assim, <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">niguém</span> estranhou quando, de repente, passamos a ir embora juntos. Nos braços de <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_3">Clarice</span> encontrei um mundo diferente, uma realidade talvez diferente daquela que eu teria imaginado em meus devaneios <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_4">ébrios</span>.</div><div style="text-align: justify;"><span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_5">Clarice</span> era uma criança querendo desvendar o mundo, enquanto Adriana era uma mulher que partira em busca de mais. <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_6">Clarice</span> sonhava alto, fazia pose. Bebia pouco e não <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_7">compartilhava</span> os cigarros que eu fumava enquanto ela me ouvia falar sobre <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_8">Lou</span> <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_9">Reed</span>, Nietzsche ou a fossa ilíaca de <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_10">Álvarez</span> de Azevedo. Absorvia tudo com seus imensos olhos castanhos, que pareciam querer me engolir de vez em quando.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">- Só pão e leite? - Me perguntava</div><div style="text-align: justify;">- Um de cada por dia - fechava os olhos e disparava o gatilho, sentindo todo meu aparelho <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_11">respiratório</span> arder - Mas frequentemente ele abdicava disso pra poder comprar livros. Vai?</div><div style="text-align: justify;">- Não.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_12">Clarice</span> nunca ia. Nem com pó, nem com ácido, nem com erva. Ia comigo, quando depois de falar, recitar, compor sonetos em homenagem ao seus malditos olhos castanhos, partia pra cima dela como um animal durante o ataque, e ali, onde estivesse, tinha seu corpo de mulher em <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_13">recém</span> formação. Quando seu rosto de menina se <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_14">encrispava</span> em um orgasmo discreto, sentia falta de Adriana e suas unhas na minha carne, sua explosão de malícia sobre mim. E quando deitava ao meu lado, eu procurava o lado oposto, onde poderia fingir que não havia ninguém ao meu lado, que minha cama, meu sofá, meu tapete, minha cozinha, meu corredor, meu banheiro ou meu elevador continuavam tão vazios como quando Adriana foi embora.</div><div style="text-align: justify;">Com o passar do tempo, cada vez mais <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_15">Clarice</span> conquistava minha intimidade, e cada vez mais via vestígios de Adriana em minha vida. Não precisou muito para ligar os pontos e, com aquela dor de quem descobre um segredo ruim, ficava cara a cara com a realidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"></div><blockquote><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><i>Dos diários de <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_16">Clarice</span>:</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><i><br /></i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><i>Duro abrir os olhos e ver que aquilo em que depositamos nossa devoção simplesmente não <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_17">corresponde</span> à expectativa que tivemos. Eu não faço parte da vida dele. É como um parafuso que, por ser tão pequeno, não dá <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_18">sustentabilidade</span> à peça. Deus, o que eu fiz com a minha vida? Eu que queria tudo, e o que eu tinha era ao mesmo tempo tão pouco e tão necessário, de repente tenho tão muito ao mesmo tempo em que recebo tão menos daquilo que preciso.</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><i>Olho para trás e vejo o passado. Sinto, com dor, que errei. Talvez tenha sido necessário para que eu pudesse saber quem sou, o que sou. Hoje eu sei a que eu pertenço. Junto minhas mãos ao peito enquanto ele dorme ao meu lado, e faço minhas orações e choro baixinho, imaginando se meu lugar estará ainda guardado caso eu decida voltar. Penso no meu amor, e tudo que desejo é que ele não tenha feito o que este ao meu lado faz noite após noite, tentando enfiar um amor fracassado entre as pernas de alguém que não se define.</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" ><i>Mas sei que não posso aguentar muito mais tempo. Ocupo o lugar de um fantasma que se chama Adriana, que ele chama agora enquanto dorme. Sei que sou um fantasma também. Temo voltar. Temo não ser bem recebida. Temo não encontrar aquele amor sincero, puro e tão bonito que ele tinha por mim. E explicar o que? Dizer o que? Não se pode simplesmente voltar e fingir que nada aconteceu. Também não se pode continuar vagando a <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_19">esmo</span> quando se sabe qual é o lugar certo.</i></span></div></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /><br /></div><div style="text-align: justify;">Acordei naquela manhã e <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_20">Clarice</span> havia sumido da minha vida com a mesma suavidade com a qual havia aparecido. Questão de tempo até que apareça outra, pensei. Meu café da manhã foi no único <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_21">pub</span> da cidade que permanecia aberto até aquela hora. Um café preto e vinte <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_22">marlboros</span>. Minha cabeça ainda doía da última bebedeira <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_23">so</span> som do velho <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_24">Johnny</span> <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_25">Cash</span>, e o silêncio do bar valia mais que ouro pra mim naquela hora.</div><div style="text-align: justify;">"E <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_26">Clarice</span>?", vocês devem se perguntar. Não sei. Foi embora, assim como Cristina, <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_27">Fabíola</span>, <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_28">Amanda</span> e toda e qualquer outra mulher, inclusive aquelas cujo nome eu sequer lembro, que cruzaram meu destino nesses anos que se passaram desde que Adriana foi embora. Talvez cada uma delas merecesse uma história, ou uma canção. Nunca toquei ou escrevi para nenhuma delas. Vivi-as intensamente, e fiz de cada uma delas um pequeno pedaço da minha destruição.</div>Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-57369763979211270662011-02-06T14:40:00.000-08:002011-02-06T15:02:55.857-08:00<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYIp2AEAqOCxqY0QP6BKajRlJ-MJIuaMx8ldYkmzOhfN5wpd3MTiBZKDaYtNx-H4tFC-bMOzUyi78DOu6MaU4w8MNDp_QwF-Q9ubmeyK_wx14Rypvj4wFBKrDNtt18qYSuhdzS9HIZGpw/s1600/tumblr_lg0pb33WTe1qaeb8po1_500_large.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 213px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYIp2AEAqOCxqY0QP6BKajRlJ-MJIuaMx8ldYkmzOhfN5wpd3MTiBZKDaYtNx-H4tFC-bMOzUyi78DOu6MaU4w8MNDp_QwF-Q9ubmeyK_wx14Rypvj4wFBKrDNtt18qYSuhdzS9HIZGpw/s320/tumblr_lg0pb33WTe1qaeb8po1_500_large.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5570715805959051666" /></a><br /><div style="text-align: center;">Não consigo pensar em muita coisa.</div><div style="text-align: center;">Só sei que quero o sol inteiro dentro do meu peito.</div>Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7096387733262582916.post-76955006060952172172011-02-02T19:06:00.000-08:002015-03-05T15:32:59.469-08:00Fragmentos de Adriana - Parte II<div style="text-align: center;"><blockquote style="font-style: italic;"><span style="font-size:85%;">(</span><span style="font-size:85%;">para ler ao som de "A Quick One While He's Away" - The Who)</span></blockquote></div><br /><br /><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">2.1 - Queda </span><br /></div><br />Muitos poderiam afirmar que minha vida mudou no momento em que Adriana partiu em busca de algo maior que eu, maior que ela própria. Não acredito nisso. Embora nem eu mesmo possa dizer com certeza, acho mais provável que os dias seguintes tenham sido um período de transmutação. Eu fui de tudo e fui tão pouco... Longe do tempo e da razão, eu buscava algo em que acreditar por algumas horas, ao menos. Mas no que podemos acreditar, na cidade?<br />No santuário de concreto e metal, gargantas secas engoliam a fuligem que caía como neve das nuvens negras de fumaça. Longe do mar, esperanças eram ancoradas no fundo daquele oceano de asfalto.<br />É estranho, eu sei, mas consequências já não me importavam mais. Mergulhei na destruição e na irresponsabilidade logo na primeira semana. Dos vícios, não poupei nenhum. Não escolhi os menos perigosos. Noite após noite, os bares eram meu reduto, onde eu me encontrava no meio de gente que não me conhecia, nem fazia questão. Entretanto, todos sabiam. Era eu passar e perceber algo estranho nos rostos, uma ponta de pena, talvez deboche.<br />Adriana me deixara um legado. A sina de ser desprezado como um cão por pessoas de qualquer tipo. Esqueci o nome de Adriana alguns dias depois. Mudei minha casa, mudei minhas roupas, mudei minha vida. Antes de dormir, me sentia apagado. Chorava sem lembrar de quem.<br /><br /><br /></div><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">2.2 - Remédio Amargo</span><br /></div><br /><div style="text-align: justify;">Pedi a quarta dose de uísque com descaso (com já havia feito tantas vezes antes). O bar era um ambiente obscuro. Vermelho e marrom predominavam naquele cômodo enfumaçado. Seis ou sete mesinhas redondas com cinco lugares estavam distribuídas ao longo da parede coberta por quinquilharias de bandas e pôsteres vintage. Escolhi o lugar mais afastado para sentar, onde podia ver os olhos tristes de uma pin up pregada na parede. Vestia um corpete vermelho com meias compridas pretas. Tinha um cigarro na mão e algo que me chamou a atenção: Seu olhar era triste. De todas as pin ups espalhadas pelo bar, aquela era a única que não tinha um rosto sensual. Apoiando o o queixo no joelho direito, havia tristeza em seus olhos. Simpatizei com ela. Chamei-a carinhosamente de Joana.<br />Era madrugada, e a garotada alternativa infestava o bar. Menininhas gostosas com cabelo esquisito, rapazes mal saídos das fraldas fazendo pose de intelectual. Ah, aquela juventude da minha idade era tão diferente de mim. Eram cerejas, ainda. Eu já era azeitona, apesar de não ser mais que um par de anos mais velho. Enquanto todos apreciavam a arte, a música, a cultura do momento, eu me chapava e desejava que o mundo explodisse.<br />Já alterado pela bebida, levantei e caminhei, esbarrando no máximo de gente possível, em direção à jukebox. Trocados catados, música escolhida, voltei pro meu lugar e afundei os cotovelos na mesa. Joana continuava me olhando. Mas ao som dos primeiros acordes de Stand By Me, seus olhos já não eram os únicos que me buscavam.<br /></div><br /><blockquote style="font-style: italic;"><span style="font-size:85%;">"I won't cry! No, I won't<br />No, I won't share up a tear<br />just as long as you stand,<br />Stand by me<br /><br />So darling, darling<br />Stand by me<br />Stand by me<br />Stand by me<br />Stand by me<br />Stand by me"</span></blockquote><br /><div style="text-align: justify;">A menina em pé ao meu lado entoava a canção com sua voz de algodão e hálito de uísque e martini. Na mão, um manhattan com cereja.<br /><br />- Adoro essa música. - Devia ter uns dezoito anos, dezenove no máximo.<br />- Música de velho, garota. - Ela riu. Sentou à minha frente sem que eu a convidasse. No instante em que curvou o corpo para sentar, avaliei aquela ninfeta na minha frente. Bundinha legal, peitinho bacana.<br />- Música boa não tem idade. Meu nome é Clarice. - Não pertencia àquele lugar. Era uma criança, ainda. Entrei no jogo pra ver onde dava.<br />- Marcos.<br /><br />Drinques mais tarde, Clarice me contara um pouco a seu respeito. Viera do interior há pouco tempo, sentia-se oprimida pela mentalidade de cidade pequena. Pra trás, deixara uma vida sobre a qual não falava.<br /><br />- Família?<br />- Não tenho.<br />- Namorado, marido?<br />- Vou buscar mais um manhattan, já volto.<br /><br />Quando voltou, mudou de assunto. Perguntou de mim, falei sobre minha vida, que estava mudando algumas coisas. Perguntou de mulheres, desconversei. Era o jogo dela, poderia ser o meu também.<br />E na doçura da criança que partira em busca de algo maior, depositei tudo aquilo que havia sobrado de Adriana. Adriana queria mais. Para Clarice, eu era esse mais.<br /><br /></div><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">[CONTINUA]</span><br /></div>Iguehttp://www.blogger.com/profile/10015569751631455072noreply@blogger.com0