Finalmente acordei. O despertador tocava há seis anos. Foi
difícil pressionar o “soneca”. Lavei a cara na pia do banheiro e, diante do
espelho, um estranho me olhou.
- E aí? – Perguntei
- Tranquilo. – respondeu
Nervoso, sem saber quem era aquele cara e o que queria,
insisti:
- Qual é?
- De boa. É bem contigo que eu quero falar. – Ele disse.
Surtei. Passei a vida pagando impostos, contribuindo pro
INSS, votando conscientemente pra, agora, isso? Inviável. Protesto,
meretíssimo, esse ser é um estranho.
- Tu acha mesmo? – perguntei
– Olha pra ti e olha
pra mim... Eu sou tu! – ele falou, como se soubesse mais que eu.
Duvidei. Pois simplesmente não poderia ser eu. Como EU, logo
EU, poderia estar assim tão...tão...tão careta? Logo eu, que me aventurei e
desaventurei na adolescência e no período pré adulto?
- Eu?
- Exato, tu mesmo.
Mas como? Álcool, maconha, cocaína, anfetamina, ritalina,
rivotril, diazepan, haxixe... Nada passou despercebido nessa busca imensa e
inexata de alguma coisa. E tudo deu em nada.
- Tu não é o ******? - Eis a pergunta que eu tanto temia. Era eu, sim. Mas com
um passado atordoado, tal pergunta soava quase como um castigo, uma maneira de
trazer à tona tudo que eu tentava a todo custo esquecer.
- Eu? Sim... Bem eu. Depende, qual é a acusação? – A brincadeira,
sempre. Pra desestimular outra piada qualquer.
- Bah, cara, ouvi tua música... Curti pra caralho. Fala bem
sobre um lance que eu vivi.
- Tá brincando! Sério?
- Meu, de boa.
- Pôxa, valeu... Bah, nem sei o que dizer... Obrigado.
- Capaz...
(foto: http://geoconceicao.blogspot.com.br/2011/06/revolucao-verde-2.html)
Medo do Escuro
(letra e música: Igue Morelli / Ivanor Kieling)
Mãe, vê se me deixa em paz
eu to indo e não volto mais
Eu quero é ser feliz
Como eu sempre quis
Já comprei minha passagem
Arrumei toda minha bagagem
Eu to indo embora
e tem que ser agora!
Terminei com a Fernanda,
mostrei quem é que manda
e agora eu vou
Perdi meu medo do escuro
Agora estou seguro
de onde eu quero estar:
Com os meus amigos
que estão comigo
aonde quer que eu vá.