domingo, 16 de janeiro de 2011

As Fontes de Montbéliard


Madalena chorava segurando sua água mineral com limão. O trem para Languedoc partira há 15 minutos.
Madalena sabia que era a melhor saída. Quando se chega num ponto tal como aquele, o melhor era recomeçar. Já não era mais moça, bem sabia. O tempo de vida já apostava sua assinatura na face outrora macia da mulher no vestido verde-água, aquela que tinha maxilares longos e fugidios e olhos de um azul líquido penetrante, assim como uma beleza feminina que amadureceu e se cristalizou com a idade.
Para trás, decidira deixar toda sua vida e um passado inglório. Um amor de perdição, um emprego medíocre, vícios e rotinas das quais ousara se libertar agora, aos sopro das brisas dos quarenta anos.
Chorava, e por seu rosto corriam as lágrimas bailarinas, traçando, lépidas, os caminhos entre o rosto sulcado da jovem senhora.
Chorava, e se sentia capaz de , como Griselda, fazer brotar fontes quase tão belas como as de Montbélard, nas quais poderia banhar-se para tirar de seu corpo e espírito toda a tristeza e inconformidade.
O trem já fazia vapores por entre as colinas do vale do Maine, e Madalena, que não tivera coragem de embarcar em busca de uma nova vida, que não conseguira se libertar de seus grilhões, chorava sentada no banco de madeira da estação, por entre centenas de passantes apressados, que não tinham tempo de notar a beleza nos olhos de um azul líquido penetrante, tampouco tinham interesse em Madalena, Griselda ou as fontes de Montbéliard.

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