quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cândida e sua noite insone

Ela tremia.
Uma das mãos segurava uma xícara branca que derramava café a cada solavanco que o corpo dava.
A outra segurava um cigarro mentolado, cuja fumaça traçava curiosos desenhos, seguindo o movimento do mão trêmula.
Já passado das dez horas da noite, ela maldizia Neruda, a quem lia sem conseguir achar sentido naquelas poesias sem rimas.
Buscava um conforto em algum lugar, longe de si mesma. O telefone repousava fora do gancho, na ânsia de evitar que alguém ligasse e a lembrasse de que ela ainda era ela.
Naquele momento, esquecera seu nome, sua vida, seus amores e dores. Fosse Sílvia, fosse Cláudia, fosse Rita, por que não? Seria todas elas, loiras ruivas, morenas. Branca-negra-índia-japonesa. Fosse ela, naquele momento, uma fórmula matemática das combinações possíveis entre formas/formatos/personalidades.
Fosse o que fosse. Naquele momento, café em uma mão e cigarro na outra, longe de todos, só não queria ser ela própria.

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