Sirva-me um conhaque, garoto, porque a noite é fria e as horas são longas, e chega um momento em que não há coberta, nem lareira, nem jaqueta nem incêndio que aqueça um velho coração.... Só outro coração é capaz de fazê-lo.
Mas sirva-me o conhaque, garoto, e escuta minhas histórias. Ou finge que o faz.
Apenas faça-me sentir como se o que eu tenho a dizer, todas as minhas batalhas, conquistas, todas as minhas histórias de vida, fossem importantes ou, ao menos, interessantes para alguém.
Sirva o conhaque, garoto, que dinheiro eu tenho. Posso pagar a garrafa toda, se quiser. Posso comprar todas as bebidas desse bar, garoto... Posso pagar jantares, viagens, mulheres, só não posso pagar por um amigo.
Por isso, me serve o conhaque, garoto. Não faço questão de beber, já parei há tempos, mas preciso tanto desse balcão, e de alguém, mesmo um desconhecido, a quem eu possa perguntar sobre política, se o Grêmio ganhou ou se as estradas serão reformadas. Não que eu me importe com política, torça pro Grêmio ou tenha carro... Não. Quero só fazer de conta que isso é tudo o que me preocupa agora: a política, o Grêmio e as estradas.
Então me dá logo esse conhaque, garoto, e liga a televisão em qualquer coisa pra eu fingir que me interesso.
Uma tentativa precocemente frustrada de reativar o finado "Entre dois Cafés". Quinquilharias literárias, traquitanas escritas e republicações, na íntegra, editadas ou "revisited", de antigos e dispersos escritos.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
(De "Entre Dois Cafés")
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