quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

(De "Entre Dois Cafés")


Alimentava a tristeza como quem alimenta os pombos no parque, jogando as migalhas de sua alma ao chão. Chorava sutilmente, embora seus olhos jamais perdessem a autoridade. Chorava não pelos olhos, mas pelo coração. De seu peito frágil brotavam as lágrimas, que rolavam até o chão, onde se reuniam em uma poça de mágoas, a qual servia como um espelho que mostrava os sentimentos. Fitava a poça com frieza, mas via refletido o desespero em seus próprios olhos
As aves brigavam pelos pedaços da alma estilhaçada, como se fossem aves de rapina sobre sua presa, enquanto aquele rapaz observava tudo atentamente. Havia chegado ali a passos leves, como se fosse apenas alguém de passagem... Ali estabeleceu-se e ficou a contemplar a cena, sentindo uma revolta muda. Cansado de assistir em silêncio, saiu do lugarzinho onde estivera oculto, e arremessou-se diante da moça, que sequer havia notado sua presença até então. Assustados com o movimento brusco, os pássaros lançaram-se ao céu, e a moça pôde ver, então, sua alma espalhada. Embora houvesse sido atacada pela tristeza, permanecia intacta. Não seria fácil juntar os pedaços e reconstruir aquela velha alegria de viver, mas ela sabia que não estaria sozinha nessa missão.

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